REFLEXÕES SOBRE PAUL BRUNTON - Paul Cash

 

Certo dia, na primavera de 1981, P.B. (como Paul Brunton era afetuosamente conhecido) estava caminhando comigo em direção a um restaurante vegetariano em Lausanne, Suíça. Um libanês de uns vinte e poucos anos rapidamente atravessou a rua e se aproximou de nós.

"Olá," ele disse, e após um longo tempo P.B. respondeu, "Sim?"
"Posso, por favor, passar algum tempo com você?"
P.B. olhou para ele silenciosamente por um momento e então perguntou, "Por que você quer fazer isso?"
"Não sei," o jovem respondeu. "Sinto que, se fizer isso, algo maravilhoso pode acontecer."
"Se algo maravilhoso acontecer," P.B. respondeu, “será por causa de de você. Eu nada faço."

O jovem trabalhava no restaurante para o qual estávamos nos dirigindo. Até a noite anterior, ele não tinha tido interesse em coisas espirituais; mas naquela noite um amigo lhe tinha dado para ler o livro “Encontro com Homens Notáveis”, de Gurdjieff, e ele tinha passado a noite toda lendo. "Quando vi você cruzar a rua," ele explicou, "eu disse a mim mesmo, 'Não sei como sei, mas aquele é um daqueles homens!’"

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Aquele foi o primeiro de vários encontros que tivemos com o jovem, cujo nome era Nouki. Quando chegamos para o terceiro encontro na casa de chá de Lausanne, ele estava tão exuberante que seu rosto parecia não ser grande bastante para conter seu sorriso. P.B. perguntou-lhe o que o fazia tão feliz. Nouki respondeu que estar com P.B. o enchia de amor.

"Por que você acha que é isso?" perguntou P.B.
"Talvez porque você ama a todos", Nouki respondeu.
"Não," P.B. respondeu. "Não sou tão avançado. Não amo a todos."

Mais tarde naquele dia, quando P.B. e eu estávamos a sós, P.B. disse de Nouki: "Aquele jovem já tem metade de sua riqueza em seu temperamento. Agora ele apenas precisa de compreensão intelectual." Naquela ocasião Nouki nem mesmo conhecia o nome de P.B. ou que ele tinha escrito livros.

Certa manhã, quando nós três estávamos caminhando juntos, um suíço que escrevia sobre tópicos espirituais aproximou-se. Ele conhecia os livros de P.B. e queria fazer algumas perguntas. P.B. parecia estar um pouco relutante, mas finalmente disse, "Tudo bem, tomarei uma xícara de chá com você."

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Naquela tarde, nós quatro nos encontramos para o chá. Nouki, como sempre, estava se deliciando com o fato de estarmos juntos. O escritor estava ansioso em perguntar a P.B. sobre certas questões filosóficas, particularmente sobre os ensinamentos de Krishnamurti. P.B. parecia mais interessado em ouvir o que o suíço achou de seu chá, mas a única resposta que teve foi um rápido "Oh, é ótimo" e o escritor continuou persistindo em obter as respostas que queria.
Quando terminou de beber seu chá, P.B. disse que era hora de terminar o encontro. O escritor ficou frustrado e infeliz com as respostas evasivas que obteve. Ao partirmos, P.B. lhe disse gentilmente, "Eu disse que tomaria uma xícara de chá com você, mas parece que você não queria tomar uma xícara de chá comigo."

A primeira vez que encontrei P.B. foi em 1977 quando ele estava visitando meu professor, Anthony Damiani, em Nova York. Anthony era devotado a P.B. desde os anos 1940 e obtinha dele grande inspiração, mesmo tendo P.B. a opinião de que não seria guru de ninguém. P.B. sempre se apresentava simplesmente como "um escritor e investigador, com alguma experiência nesses assuntos – apenas isso". Mas Anthony bem sabia que P.B. colocava a palavra "investigador" com mais significado do que a maioria dos ouvintes poderia entender.

Imagem relacionada  A. Damiani

Em 1971, Anthony tinha fundado o Centro de Estudos Filosóficos em  Valois, Nova York. Ele gostava de ter fotos de santos e sábios de várias tradições nas paredes. Quando P.B. visitou o lugar pela primeira vez e viu sua foto na sala de meditação, ele a retirou imediatamente. E nos disse que colocar ali sua foto era inapropriado, recomendando-nos que usássemos a foto de Rámana Maharshi naquele lugar.

Em minha primeira entrevista com ele, perguntei-lhe como cultivar e reconhecer a orientação interior. Ele respondeu que há dois passos.

"Primeiro," ele disse, "você tem que ser capaz de se fazer completamente humilde. Se não puder fazer isso, não haverá qualquer orientação." E fez uma longa pausa para que eu entendesse que humildade significava algo mais profundo do que eu tinha entendido.

"Se não puder fazer isso," ele continuou, "então deve ser capaz de fazer nada. Fazer nada  significa ser ativo e atento interiormente. Pode continuar com suas tarefas normais, mas deve evitar qualquer decisão ou ação com respeito àquilo para o que você procura a orientação.Não se pode dizer quanto tempo terá que esperar. Mas se agir certo, então quando a orientação vier não haverá dúvida sobre ela. Você terá plena certeza. E também a força para segui-la."
Na mesma entrevista, ele me perguntou, "Qual aspecto particular da palavra 'verdade' é mais significativo para você?"

Na época eu tinha vinte e nove anos e a palavra verdade não significava nada para mim. Talvez eu entendesse a palavra "honestidade"; mas "verdade" me parecia demais para entender.

Mas enquanto me sentava ali com P.B., comecei a perceber que algo dentro de mim sabia do que ele estava falando. Depois daquele dia, não tive dúvidas de que a palavra ‘verdade’ tem um significado próprio e que sua compreensão é uma parte essencial para ser plenamente humano.

Na presença de P.B. aquela palavra tomou nova dimensão. Outros que se entrevistaram com ele também tiveram experiências similares.

Aqui estão alguns dos trechos de seus diários publicados postumamente de que mais gosto:

“O ponto onde o ser humano encontra o infinito é o Eu Superior, onde ele, o finito, responde ao que é absoluto, onde ele reage Àquilo que transcende sua própria existência – esse é o Deus pessoal que ele experimenta e com o qual entra em relação. Neste sentido sua crença em Deus Pessoal é justificável”.


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“O Eu Superior é o ponto onde a Mente Universal é recebida na consciência. É o Eu livre de limites, pensamentos, carne, paixão e emoção – isto é, do ego pessoal”.

“Por causa da natureza dual que o Eu Superior possui, é muito difícil tornar claro o conceito do Eu Superior. Os seres humanos estão ligados à Mente Universal através do Eu Superior, o qual por isso se relaciona por um lado com um mundo vibratório e por outro de uma existência que está acima de todas as relações”.

Perguntei certa vez a P.B. se alguém poderia ir a um sábio buscando ajuda e o sábio ser incapaz de ajuda-lo. Ele respondeu que às vezes a intuição vem, às vezes não vem; e explicou que quando ela não vem, o sábio sabe que nada pode fazer por aquela pessoa.

"Você deve entender," ele disse, "o Eu Superior não está sempre à sua disposição para atender o que lhe pede. Mas há uma condição na qual você pode estar à disposição para sempre atender o Eu Superior. Essa é a condição que devemos lutar para alcançar."

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